Prof. Marcelo Conte
Doutor em Ciências Visuais (UNIFESP) e Mestre Ciências do Esporte (UNICAMP)
Head Trainer Conte Fit Motorsports Training - @contefit
Os estudos mostram que pilotos de carros de corrida de alta performance apresentam frequência cardíaca, consumo máximo de oxigênio, volumes ventilatórios e resposta metabólica semelhantes aos atletas de elite de outros esportes como basquete, boxe, futebol, atletismo, ciclismo, handebol, entre outros. A resposta da frequência cardíaca durante as corridas, variam, em média entre 142 a 180 bpm e o gasto energético é de 8 a 10 vezes superior do que os níveis em repouso durante a condução dos carros em alta velocidade.
Pilotar um carro de corrida também exige muita força, os pilotos de uma forma geral apresentam força de flexão e extensão do tronco, extensão de perna, extensão e flexão do pescoço semelhantes ou até mesmo superiores a uma variedade de outros atletas. O automobilismo também requer a capacidade de controle neuromuscular para suportar às bruscas acelerações e a força G exercidas no tronco e pescoço, simultaneamente a capacidade de reação aos estímulos visuais e auditivos, tais como as informações do painel de instrumentos do próprio carro de corrida, instruções da equipe pelo rádio, movimento dos outros pilotos e acidentes na pista. Pilotos de carros de corrida, também demonstram tempo de reação melhor do que pessoas comuns.
Nesse sentido, os pesquisadores William P. Ebben e Timothy J. Suchomel (Centro de Pesquisa de Pilotos de Stock Car e Universidade de Wisconsin) realizaram um estudo muito interessante, com a proposta de avaliar as demandas físicas, lesões e condicionamento físico de pilotos da Stock Car. Foram entrevistados 40 pilotos de 27 estados dos Estados Unidos da América. Os resultados mostraram que a força de membros superiores foi considerada, pelos pilotos como a demanda física mais importante. Os pilotos também relataram que é comum se sentirem exaustos após a corrida, bem como dor e fadiga nos músculos do ombro. As lesões na região lombar e tronco são as mais frequentes, embora as lesões na cabeça são as que mais demandam atenção médica. O treinamento de força e cardiovascular, foram os tipos de exercícios mais realizados pelos pilotos, os quais de uma forma geral, demostraram elevada motivação para realizar treinamentos para melhorar a performance nas corridas. Muitos pilotos tinham antecedentes atléticos, sendo que o futebol americano foi identificado como o esporte mais frequentemente praticado antes do automobilismo.
Os resultados do estudo, reforçam que a preparação física voltada para o automobilismo, além de promover melhora na condição atlética do piloto também é importante na prevenção de lesões.
Especificamente, os autores identificaram que em relação as lesões que necessitaram de hospitalização, 43% ocorreram nas extremidades superiores e 17,5% nas inferiores. Os problemas mais comumente relatados foram lesões nas costas, embora as injúrias na cabeça e pescoço fossem mais susceptíveis em exigir hospitalização. No estudo, ainda foi identificado que 12,5% dos pilotos apresentaram lesões pescoço que exigiram cuidados hospitalares. Apesar de permanecer uma preocupação, os dados indicam que as lesões de cabeça e pescoço estão progressivamente diminuindo nas corridas. Essas mudanças podem ser devido aos avanços em tecnologia e uso de dispositivos de proteção para a cabeça e pescoço, que se tornaram mais populares nas últimas décadas. Cinco por cento pilotos tiveram lesões nas costas ou tronco que necessitou de cuidados hospitalares, por outro lado, 37,5% relataram nenhum problema físico contínuo, enquanto 22,5% relataram dor crônica nas costas e outros 15% sofreram de dor no pescoço. A frequência desses tipos de problemas físicos, em geral, varia de 63 a 88% em pilotos de elite.
A força física foi relatada como potencialmente útil no papel na prevenção de lesões em corridas de automóveis. Baseado nos resultados do estudo norte-americano, é plausível que algumas ações que promovam lesões em corridas de automóveis, como aquelas associadas às articulações da coluna lombar e cervical, punho, joelho e ombro e/ou distensão muscular podem ser reduzidas com uma boa base de força decorrente dos programas e práticas da preparação física. Por exemplo, pilotos com os músculos do pescoço fortes e resistentes, apresentam um limiar de tolerância melhor para suportar desaceleração brusca em caso acidentes, bem como músculos estabilizadores da coluna vertebral bem trabalhados ajudam o piloto a resistir melhor aos impactos. Por outro lado, também é frequente em pilotos, as lesões crônicas decorrentes da pilotagem, devido aos movimentos repetitivos e excesso de sobrecarga sobre as articulações, músculos e tendões, nestes casos o fortalecimento muscular prévio é fundamental.
Os pilotos de Stock Car que participaram da pesquisa da Universidade de Wisconsin, relataram que realizam treinamento com pesos em média entre 2 a 3 dias por semana. Esta frequência e volume estão dentro dos intervalos comumente recomendados. De uma maneira geral, foi observado uma correlação significativa entre bons resultados nas corridas e a dedicação no treinamento. Por isso, o condicionamento físico nos treinamentos está relacionado ao sucesso da corrida para muitos pilotos.
A força da parte superior do corpo foi identificada como a mais importante capacidade física para dirigir Stock Cars por 100% dos pilotos que participaram do estudo. Este achado foi confirmado em parte, porque os pilotos, em sua maioria, também identificaram dor e fadiga na parte superior do corpo após as corridas. A relação entre a parte superior do corpo e as demandas associadas às corridas de Stock Car são ainda mais ilustradas pelo número expressivo de lesões da parte superior do corpo, especialmente a mão e o punho. Vários pilotos relataram que essas lesões foram causadas por movimentos balísticos do volante quando as rodas dianteiras do Stock Car fazem contato com outros carros ou com o muro. Os pilotos reconhecem a importância da parte superior do corpo no treinamento de força, desta forma 4 dos 5 principais exercícios que realizavam na rotina de treinamento eram para a parte superior do corpo, como por exemplo, o supino (peitoral, ombro e tríceps), rosca direta (bíceps) e shoulder press (ombro). Relataram que o desejo de ganhar força para competir como a principal motivação para a realização de treinamento com pesos.
Muitos pilotos eram atletas de outras modalidades quando crianças e/ou adolescentes. Embora, o futebol americano era mais comum, esses pilotos participaram de uma ampla gama de esportes. Vários pilotos indicaram que precisaram suspender suas participações em esportes tradicionais para prosseguir suas carreiras no automobilismo, justificando que a corrida requer habilidades físicas variadas, como como força e resistência muscular específica, resistência cardiovascular e reações rápidas. É provável que o desenvolvimento físico acumulado através de uma variedade de esportes pode ser útil para os pilotos.
Aproximadamente 62,5% dos pilotos referiram a resistência cardiovascular como uma das principais demandas físicas para pilotar um Stock Car. Este resultado é consistente com os depoimentos de muitos pilotos que relataram sentirem fadiga intensa ou moderada, bem como efeitos cardiorrespiratórios, tais frequência cardíaca elevada e falta de ar durante a corrida. Mais da metade dos pilotos realizam treinamento cardiovascular para melhorar o condicionamento para corrida, visando também a manutenção da termoregulação.
Os pilotos também consideraram essencial o treinamento do pescoço e dos músculos do CORE. Os ferimentos na cabeça e pescoço foram identificados entre as três principais preocupações da categoria. A parte inferior do corpo é uma demanda física importante para o acionamento dos pedais de freio e embreagem, no entanto esse segmento também é exigido no gerenciamento das forças de aceleração lateral.
Além dos aspectos musculares a coordenação óculo-manual associado com os movimentos dos pés é relevante, bem como o tempo de reação e visão periférica, fundamentais para o piloto manter o foco e a percepção visual em ótimas condições para antecipar situações de acidentes ou aproximação dos adversários.
Finalmente, podemos afirmar que uma variedade de fatores além da força e resistência muscular são importantes para o desempenho da corrida e prevenção de lesões no automobilismo. Vale a pena treinar!
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